domingo, 27 de janeiro de 2008

04 - A IMPRENSA E O CARNAVAL

Enquanto jornais e jornalistas do século XIX, em tese, não tiveram o compromisso de publicar os principais fatos ocorridos nesta cidade, somente no século seguinte, Hervé Salgado Rodrigues, diretor-proprietário do jornal “A Notícia”, passou a relatar alguns pontos da história do carnaval campista, em seu livro “Na Taba dos Campos dos Goytacazes”.
Jorge da Paz Almeida, conhecido no mundo do samba, também narrou em um livro “50 Anos de Carnaval”, acontecimentos do carnaval campista, situando-os entre os anos 1925 a 1992. Além disso, em alguns casos, ambos os narradores se esqueceram do elemento primordial para uma narrativa histórica, neste caso as referências, sem as quais não há nenhuma ligação quanto ao significado da narrativa.
Até meados do século XIX, RODRIGUES (1988, p. 128), os campistas brincavam o carnaval na forma do “entrudo”, utilizando a violência nas batalhas com baldes de água e farinha de trigo e encerradas com o mau gosto das latas de urina. Isso fez com que o Barão de Carapebus, presidente da Câmara Municipal, em 1851, tomasse a medida enérgica de proibir a prática do “entrudo”, com o objetivo de moralizar as brincadeiras.
A medida tomada pelo Barão consistia em quatro longos artigos, que cominavam com a pena de seis dias de prisão e a multa de 12$000 réis, que depois foi substituída por 50 açoites no pelourinho, mas cujas penas nunca foram respeitadas. Mesmo assim, a situação melhorou e as perigosas brincadeiras foram substituídas pelos limões de cheiro, tidos como um projétil mais amável e cordial. Assim, 15 dias antes do carnaval, o povo começava a fabricar os limões, que eram feitos de água perfumada e vendidos em tabuleiros por escravos, ou em casas comerciais, como a do Vieira Bellido, que anunciou a venda, no Monitor Campista, dos tais limões pela última vez em 1892.
Os limões eram feitos de cera em diferentes cores e tamanhos e de borracha muito fina, cheia de água perfumada. Depois surgiram as bisnagas feitas de folhas de lata, espirrando cheiros bons. Até que em 1896, Arthur Rockert introduz o cinematógrafo em Campos, bem como os confetes e serpentinas para enfeitar o carnaval.
Segundo Hervé, os primeiros desfiles de carruagem ocorreram em 1857, quando no município existiam 157 carruagens e os desfiles eram feitos a pé, a cavalo ou em carrinhos enfeitados que conduziam os foliões das classes dominantes.
O primeiro desfile carnavalesco foi organizado pela “Sociedade Congresso Carnavalesco”, cuja sede localizava-se na rua Lacerda Sobrinho. O desfile constou de carro alegórico, que reproduzia antigas “saturnais”, música e guarda de honra a cavalo, levando buquês, que eram oferecidos às damas. Depois disso, surgiu, em 1870, a “Sociedade Az de Copas”, que provocou um escândalo, porque, pela primeira vez, os homens saíram fantasiados de mulher. No século passado RODRIGUES (op. cit., p. 130) comenta que a fase áurea do carnaval campista ocorreu entre os anos de 1920 e 1950. E ele descreve um desses carnavais da seguinte forma:

(...) nas tardes de carnaval, os mascarados começavam o desfile por volta das 14 horas. Eram figuras humorísticas, belos dominós com guizos e arminho nos punhos e nas golas ursos e bois pintadinhos. Depois, quase à tardinha, vinham os corsos. A população então vinha para o centro para assistir ao desfile e participar dos desfiles e das guerras com os populares limões de cheiro.

Posteriormente, os campistas foram criando diversas associações carnavalescas como clubes, cordões, ranchos, blocos de embalo ou blocos avulsos, blocos de salão, boi pintadinho, blocos de samba, batucada... Isso até chegar às escolas de samba.
O historiador e narrador dos fatos ocorridos na Baixada Campista, Waldir Pinto de Carvalho, no livro “Campos Depois do Centenário” volume 1 (2001, p.69) também fez relatos de alguns carnavais que vivenciou na sede do município, como, por exemplo, o de 1935, em que o rancho “As Magnólias” brilhou na avenida e conquistou o título de campeão. Em outras edições de sua obra “Campos Depois do Centenário”, Waldir de Carvalho fez pequenos relatos de como foi o carnaval campista, nas décadas de 1940, 1950 e, principalmente, 1960.
Dessa forma, percebemos que o carnaval campista foi se modificando com o tempo, porque quando havia um desentendimento dentro do grupo, alguns foliões criavam outro tipo de bloco para brincar o carnaval, como relatou Jorge da Paz Almeida. Daí a quantidade de diferentes sociedades carnavalescas – blocos de escudos, ranchos, cordões, Frevo e as grandes sociedades que existiram em Campos, das quais restam apenas três tipos: os bois, os blocos e as escolas de samba.
O importante é assinalar que a imprensa sempre esteve, de certa forma, ligada à natureza dos carnavais, até como forma de estabelecer elos de comunicação com a população. Na obra “Memória do Carnaval” (Oficina do Livro, Rio de Janeiro, 1991) in SOARES (2004, p.106) há um registro dando conta de que a partir de 1855, no Rio de Janeiro, “a imprensa passa a ser responsável pela divulgação do carnaval, destacando a fundação do Congresso de Sumidades Carnavalescas, as primeiras grandes sociedades...”. SOARES (op. cit., p. 107) diz que O Globo, A Noite, Diário de Notícias, Jornal do Brasil, A Tarde, Última Hora (...) foram, sempre, parceiros das atividades carnavalescas em todas as épocas.
Em Campos, a mesma fonte cita:

(...) apesar de o Monitor Campista ter sido fundado em 1834, os registros sobre o carnaval campista naquela época são raros, embora existam evidências de que os aristocratas rurais, também, realizavam suas festas carnavalescas nas casas grandes de suas fazendas e engenhos, a exemplo do que acontecia no Rio de Janeiro (...)

Os jornais A Notícia, de 1912; A Cidade, 1938 e, depois, a Folha da Manhã, 1978, sempre deram apoio integral aos carnavais da cidade, mantendo colunas especializadas nos meses que antecediam o tríduo momesco.
Há, no entanto, na narrativa (SOARES, op. cit. p.119) a desconfiança de que o prefeito Manuel Ferreira Paes dava uma atenção especial às escolas de samba Unidos da Coroa e Cruzeiro do Sul, grandes campeãs do carnaval dos anos 50. Isso porque as sociedades eram dirigidas por um servidor municipal, Roberval Bastos Tavares, importante em sua administração e um delegado de polícia, Oswaldo de Oliveira Trota. O autor salienta, também, que “as duas sociedades recebiam uma verba mais substanciosa, deixando as concorrentes sem condições de competir”. Há que se destacar que, por exemplo, a Folha da Manhã, para incentivar várias categorias de integrantes dos blocos e escolas de samba, chegou a criar o Troféu “Felisminda Minha Nega”, representado por uma comenda, cujo desenho é criação do design Luiz Carlos França. O jornal erguia um palanque especial na avenida, onde destacava seu estandarte preto e branco e mantinha uma comissão especial para os melhores blocos e escolas (no conjunto), passistas, mestre-sala e porta bandeira, ala de baianas, fantasia e melhor samba-enredo.

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