domingo, 27 de janeiro de 2008

09.2 - Repercussão na Câmara

O fato é que o tema em questão além de ser polêmico, já vem incomodando, principalmente ao vereador Geraldo Venâncio que, assim que teve uma oportunidade, fez uma indicação, proibindo o enredo em homenagem a políticos e informou que ela já passou em plenário, foi aprovada por unanimidade e encaminhada ao gabinete do prefeito Alexandre Mocaiber, para que ele tome as medidas iniciais. Segundo ele, essas medidas têm que ser tomadas agora, “porque daqui a 60 dias, as escolas já começam a preparar os enredos para o próximo carnaval”.
Para o vereador, o fato “vem acontecendo há alguns anos em nossa cidade. Isso é uma grande deturpação, uma deformação do carnaval, os chamados enredos por encomenda. Pessoas totalmente desconhecidas da comunidade, sem nenhuma folha de serviços prestados, utilizando-se do carnaval e da ingenuidade dos carnavalescos como ferramenta de propaganda político-eleitoral”.
Entretanto, para FIGUEIREDO (1994, p. 12), “o marketing político, ao contrário do que muitos pensam, não deve ficar restrito somente à época de eleições, mas sim, ser utilizado a todo tempo, principalmente para preservar o poder”, parece que os políticos dessa cidade não aprenderam bem a lição, porque o marketing que realizam é apenas episódico.
Quatro anos após a pesquisa inicial sobre os enredos de caráter político em Campos, com quase nove anos em relação a uma homenagem prestada pela escola Amigos da Farra ao ex-prefeito Anthony Garotinho, é que um vereador na Câmara Municipal percebeu as manobras efetuadas pelos homenageados para conquistarem mais votos, usando o carnaval campista como palanque eleitoral. A matéria chamava a atenção e coube ao vereador Geraldo Venâncio criar uma “Indicação”, colocá-la em votação na Câmara – aprovada por unanimidade -, para então enviá-la ao prefeito, Alexandre Mocaiber.
O assunto publicado no dia 22 de fevereiro de 2007, pelo jornal O Diário, ostentava o título “Câmara de Campos vai discutir enredos políticos – Proposta é valorizar vultos históricos e resgatar a memória do município”. À reportagem desse jornal, o citado vereador chegou a dizer que “sabe-se que é proibido que pessoas vivas sejam homenageadas com indicação para ser nome de rua, mesmo que tenham merecimento. No Carnaval, essa regra não é observada. O pior é que crianças são levadas a gritar o nome de pessoas que elas nem sabem quem são”.
Para nós, pesquisadores, o vereador declarou ter criado essa indicação com o objetivo de fazer com que a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima estabeleça regras claras que impeçam a utilização desse método, já que essas entidades, que compõem o carnaval, dependem na totalidade dos recursos públicos municipais para realizarem o seu carnaval.
Além disso, à reportagem, ele alegou que “Campos tem inúmeras figuras de projeção não só local como nacional, em vários campos de atividade. Figuras do porte de um Alberto Lamego ou José Cândido de Carvalho, na literatura”, e citou também outras figuras como “Wilson Batista, Délcio Carvalho e Ataíde Dias, na música. No futebol, temos Didi, entre tantos outros”.
Ele fez outras citações como, por exemplo, o fato de Campos ter sido a primeira cidade da América Latina a ter luz elétrica; o fato de o município ter sido durante muitos anos o mais rico do Estado e completou dizendo que “certamente a possibilidade de que esses ensinamentos fiquem mais estabelecidos e definidos na consciência, principalmente da juventude, é muito importante”.
O projeto em si é importante por dois motivos. O primeiro é que, passada a euforia do carnaval, as escolas vão começar a preparar seus enredos para o próximo ano. E, segundo, é que de acordo com o que o vereador disse, as escolas e blocos teriam mais uma forma para se justificarem, já que elas são associações culturais. “Seria inclusive uma forma de preservação da memória e da cultura de Campos. Além de tudo, as escolas de samba e blocos justificariam sua existência enquanto entidades culturais, bem como a própria subvenção que recebem do poder público”, comentou.Sobre o trabalho de pesquisa, ora sendo realizado, ele salientou “É com muita satisfação que a gente vê no fórum ideal para essa discussão: a Faculdade de Filosofia, que é um centro de debates. Na verdade, a realização desse projeto me dá a convicção de que a partir dele muitos segmentos da sociedade que trabalham, que operam no carnaval, vão ter voz, na medida em que o meio universitário propicia um debate mais forte sobre o assunto”.

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