domingo, 27 de janeiro de 2008

10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde que a revista Carta Maior resolveu publicar em setembro/2004 uma série de cartas escritas por antropólogos, sociólogos e pessoas ligadas à literatura e às artes de uma forma geral, como Niéde Guinon (antropóloga), Eduardo Galeano (pensador e escritor uruguaio), Moacyr Scliar (médico, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras), Mirian Goldenberg (doutora em Antropologia Social e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Maurício de Sousa (criador da Turma da Mônica), Emir Sader (sociólogo e professor da UERJ), Chico Anysio (humorista, escritor e pintor), Ferreira Gullar (poeta), Viviane Mosé (filósofa e divulgadora de filosofia), Frei Betto (teólogo e escritor) e Bernardo Kucinski (jornalista e professor da ECA-USP), entre outros, achamos por bem, não dar o título de “Conclusão” a este capítulo final, mas sim “Considerações Finais”. Por quê?
Porque o carnaval, como expressão de arte e cultura popular, comemorado anualmente, na verdade se renova, pois a cada ano os carnavalescos se esmeram em criar novos enredos e as alas dos compositores em criar novos sambas, para serem cantados na avenida por seus foliões.
Como bem disse o radialista Ricardo Silva, “o carnaval é uma escola em plena avenida”. Gostaríamos realmente que fosse se os carnavalescos e dirigentes abraçassem a idéia de fixarem seus enredos em detalhes da história do município ou em temas atuais, que envolvessem o país, como as dificuldades financeiras, os problemas sociais, urbanos e, também, críticas baseadas em outros fatos, como a violência e o consumo de drogas, que tanto mal causam a sociedade.
Mas, infelizmente, o que temos visto desde 1998 são os sambas cujo enredo enaltecem e enobrecem os feitos de homens que conquistaram nas urnas o direito de governar, seja no executivo ou no legislativo. E assim, tivemos uma série de homenagens ao ex-prefeito e ex-governador Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira (um campeão de sambas em sua homenagem); a sua esposa e ex-governadora do Estado, Rosinha Matheus; ao ex-prefeito Arnaldo Vianna (duas vezes); a sua esposa, a ex-presidente da Fundação Teatro Trianon e da APIC, Ilsan Vianna (juntamente com a ex-Secretária de Ação Social Jane Nunes); aos ex-deputados estaduais, Paulo Albernaz e João Peixoto; ao ex-deputado federal, Paulo Feijó; ao ex-vice-prefeito, Geraldo Siqueira Pudim; ao ex-secretário de Obras, Edilson Peixoto; ao ex-prefeito de Cabo Frio e deputado estadual Alair Correa; ao ex-presidente da Alerj, Jorge Picciani; ao atual presidente da AESC, Ariel Chacar; e aos ex-vereadores, Toninho Vianna e Manoel Alves da Costa, e tudo isso entre 1998 a 2005.
No ano seguinte, 2006, além de Anthony Garotinho (homenageado por cinco escolas de samba, já citadas em outro capítulo), foram homenageados, a presidente da Casa Amigos da Solidariedade, Fátima Castro; a ex-secretária de Ação Social Fátima Beiruth e o vereador Alciones de Rio Preto.
Esse ano, não houve nenhum samba em homenagem a políticos. O destaque foi dado a dois homens do alto escalão da prefeitura: o secretário de comunicação, Roberto Barbosa (que usou o artifício de ver sua obra literária como enredo da escola) e o presidente da Fundação Teatro Trianon, Nilson Maria, que é homem ligado ao carnaval de Campos, por ter sido presidente da AESC e radialista, que sempre abriu oportunidade para que a comunidade carnavalesca tivesse voz no rádio, mas usou o artifício de indicar os supostos colaboradores da escola, que deveriam assinar um “Livro de Ouro”.
O prefeito de São Fidélis, Davi Loureiro, que também participou porque a União da Esperança resolveu colocar como enredo à cidade de São Fidélis. Não se sabe o valor da contrapartida financeira. A quantidade de pessoas da comunidade que receberam sambas em sua homenagem chamou a atenção: Zé 21 (carnavalesco), Olavinho (comerciante e candidato a vereador) e Jorge Ferreira Lobo (comerciante e torcedor do Goytacaz).
Mas, ao findar o carnaval, vimos com tristes olhos dois fatos que nos chamaram a atenção. O primeiro foi em relação a um possível enredo para o costureiro Nelcimar Pires, que conquistou por cinco vezes consecutivas o prêmio máximo de desfile de fantasias do Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro e o segundo em relação a Amigos da Farra, que pintou e mandou distribuir pela cidade faixas, mostrando que o enredo de sua escola em 2008 será o médico e diretor da faculdade Estácio de Sá, o médico Paulo Hirano.
A impressão que se tem, depois de dias e mais dias de reuniões e discussões de pauta, votações e escolhas da Carta de Intenções, realizada por conta do Congresso de Cultura, realizado no Palácio da Cultura, em setembro do ano passado, é de que tudo o que foi discutido naquele momento “entrou por um ouvido, e saiu pelo outro”, frustrando as pessoas que lá estiveram. Nada do que foi discutido foi posto em prática e os enredos com temas políticos continuam a fazer parte da pauta de intenções e são ponto importante na questão da homologação e criação de um regulamento que norteasse o carnaval campista a voltar para os trilhos da cultura. Mas não foi o que se viu. Não é o que se vê.
Se por um lado a Fundação Teatro Trianon mostrou pulso firme para dar ao carnaval de Campos uma cara nova, por outro alguns sambistas, que “acham” que sabem mais do que “quem quer que seja”, resolveram fazer “ouvidos de mercador” e não leram e muito menos contribuíram para que o carnaval de 2007 fosse brilhante.
Carros maiores do que a avenida e baterias de “aluguel” foram a tônica desse carnaval. Os problemas com fantasias de última hora, tão comuns nos últimos instantes de uma escola entrar na avenida, não aconteceram. Os destaques, deram um show de pontualidade.
Em meio a tudo isso fica a dúvida: teria sido melhor entrar na avenida sem fantasia, ou não ter comparecido para desfilar e ser desclassificada? Por que apenas uma escola não resolveu comparecer ao desfile e não deu nenhuma satisfação à coordenação geral do carnaval? Como é possível que a prefeitura de Campos liberasse quase R$ 600 mil (seiscentos mil reais) às vésperas do desfile, quando as escolas já estavam em fase de acabamento dos seus veículos? De que adiantaria essa verba em hora tão tardia? Será que se a prefeitura tivesse liberado essa verba há 45 ou 60 dias, antes do carnaval, a Madureira do Turfe não teria desfilado?
Conjecturas à parte, o fato é que do jeito que a situação está, o carnaval de Campos está realmente fadado a entrar na contra-mão da história. Ou cair num abismo sem fim.
Mas de quem é a culpa? Culpa do carnavalesco ou do diretor da escola, que é cabo eleitoral (“amigo”) deste ou daquele político? Ou a culpa é do político que financia, mas quer ter retorno do investimento?
Acredito que a melhor resposta para as conjecturas acima e a culpabilidade de tudo isso é de ambos, diretores e carnavalescos de um lado e políticos de outro.
Aos políticos cabe, tão somente, executar e gerir as verbas públicas (executivo) e fiscalizar os anteriores (legislativo), criando obras e projetos públicos que dêem condições para que o povo tenha melhoria da qualidade de vida. Qualidade de vida, entre outras coisas, significa projetos de qualidade na educação, saúde, saneamento e esgotamento sanitário, obras, transportes, empregos e projetos sociais. Projetos esses que cubram as falhas administrativas, no que diz respeito à falta de empregos e moradias de qualidade em Campos dos Goytacazes, já que o município se ressente de alguns problemas, como a quantidade de pessoas que moram em áreas de risco e quando chove, e o Rio Paraíba se enche, ficam desabrigadas.
Por outro lado, também é culpa de gente como os diretores e carnavalescos das escolas que, sabendo dos problemas que a sociedade enfrenta com o tráfico de drogas e a violência, não cria projetos sociais para incentivar e dar às crianças e adolescentes uma oportunidade de aprender algo que lhes seja útil para ganharem à vida e sobreviverem, como algo que está em seu sangue e é um dom que vem de berço, o samba.
Quantas vezes já vimos pela televisão, demonstrações de apresentações das escolas de samba do Rio de Janeiro, por outras cidades fluminenses, até mesmo em eventos sociais de grande porte. Além disso, se as escolas (veja diretores e carnavalescos), tivessem vida durante o ano inteiro, criando festas, bailes e outros eventos, as escolas de samba teriam verbas para suprir os custos de compras de materiais para criar suas fantasias, alegorias, adereços e carros alegóricos.
Queremos acreditar que o projeto criado pelo vereador Geraldo Venâncio possa vir de encontro aos anseios de pessoas que se opõem a essa enxurrada de sambas cujo teor é o marketing político. Queremos acreditar que esse projeto (o do vereador), possa vir dar uma luz à mente de quem dirige as escolas de samba e às entidades que dirigem os destinos das escolas, dando-lhes suporte para criar outros tipos de enredos, como os históricos e culturais, já que o município tem um vasto manancial de assuntos que poderiam servir de enredo para as escolas de samba.
Se as escolas não quiserem se adequar a esse tipo de tema, façam ao menos como Caprichosos de Pilares, do Rio de Janeiro - enveredem pelo sarcasmo, pela crítica como forma de mostrar e dar um novo enfoque aos desfiles, tornando-se verdadeiras óperas populares, fugindo desse marketing político, que tão mal faz ao nosso carnaval.
Esperamos também que os políticos cumpram apenas com a sua obrigação e deixem de ser a “galinha dos ovos de ouro” das escolas de samba. Que fujam dessa atitude non-sense e dessa vontade de usar o carnaval como um palanque político-eleitoral, para que amanhã, ou depois, tenhamos de voltar com esse mesmo tema, atualizando apenas quais serão os novos políticos, ou homens da comunidade, que serão temas de sambas-enredo.

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