domingo, 27 de janeiro de 2008

09.1 - Palco da avenida

Surpreendidos pela maneira com que o carnaval 2007 em Campos vinha sendo preparado, com calendário, horários e regulamento previamente anunciados pelos coordenadores e, também, pelos veículos de comunicação, fomos para a Avenida XV de Novembro, para acompanhar os desfiles das escolas de samba do grupo especial, que foram realizados segunda e terça-feira de carnaval, dias 19 e 20 de fevereiro.
Na segunda-feira, registramos, com espanto, a pontualidade das escolas que entraram na avenida. Fato tão combatido pela imprensa e também por algumas pessoas ligadas as escolas de samba, que viam no constante atraso a diminuição de espectadores para assistir aos desfiles das escolas.
Em contrapartida, as praias da região, notadamente as de São João da Barra (mais próxima do município de Campos) e a do Farol de São Tomé (a praia dos campistas), se enchiam para ver os artistas baianos, se exibindo em trios elétricos, com sons altíssimos.
Como no primeiro dia de desfile, não haveria a apresentação de nenhuma escola com enredo de teor político, aproveitamos o momento para fazer as entrevistas necessárias ao tema que estamos abordando e pudemos assim ouvir diversas pessoas ligadas ao carnaval, como alguns dos coordenadores, Carlos Vasquez, Antônio Roberto Góes Cavalcanti (Kapí) e da gerente de cultura Maria Cristina Torres Lima, além do presidente da Fundação Teatro Trianon, Nilson Maria (que seria homenageado, no dia seguinte, pela Onça no Samba); o presidente da Associação das Escolas de Samba de Campos, Ariel Chacar; os diretores da União dos Blocos de Samba, que também são radialistas, Wallace de Oliveira e Ricardo Silva; o rei Momo 2007, Sérgio Guzulo; o príncipe do samba, Jean Carlos; e as princesas, Gilsiara Adriana e Renata Cruz e os artistas, Eleonora Souza e Arturo Suescon (este da Colômbia), que vivem do carnaval, mostrando o ritmo e o gingado brasileiro em shows pelo Brasil e Colômbia.
Mas como “alegria de pobre dura pouco”, o que parecia impossível (no primeiro dia) aconteceu. A última escola – Acadêmicos do Cidade Luz não se apresentou para desfilar e muito menos alegou um motivo pela desistência da apresentação.
No segundo dia, voltamos para a avenida, com a esperança de que tudo corresse às mil maravilhas, esquecendo do que aconteceu no final do desfile do dia anterior. Ao chegar na Avenida XV de Novembro, por volta das 19 horas, mais uma surpresa, a escola Ás de Ouro, que deveria ser a última a desfilar nessa noite, resolveu antecipar todo o seu desfile e pegou a muitos espectadores de surpresa, porque nesse horário ela já estava na metade do seu desfile apresentando um samba em homenagem a um antigo carnavalesco da escola e mais conhecido como Zé 21.
A explicação dada pelo carnavalesco da escola, Roney Brandão, sobre o tema do enredo foi “porque ele foi um marceneiro que trabalhou comigo em várias agremiações e a última que o fez foi aqui. Daí nós resolvemos fazer essa homenagem a ele, por ser uma pessoa muito bacana com a gente”.
Ao fim do desfile dessa escola, resolvemos então ir até à concentração das escolas para aproveitar o tempo e, além disso como as escolas estavam se comportando na arrumação. Aproveitávamos para fazer as entrevistas que faltavam para a edição do nosso documentário.
A escola seguinte, a Boi Sapatão, trazia um enredo em homenagem a outra pessoa da comunidade, um comerciante conhecido por “Olavinho”, reconhecidamente candidato à vereança nas próximas eleições. O carnavalesco da escola e colunista social, Cidinho Ramos, encontrado antes do homenageado, explicou o porquê do tema da escola:
- Ele tem se tornado uma pessoa muito popular e querida do povão. Depois a gente tem notado que ele está em ascensão. Por isso, resolvemos fazer essa homenagem. E eu fiz até uma brincadeira porque ele é do signo de leão. E sonhar com rei dá leão de Joãozinho Trinta. E acabou que Joãozinho Trinta é meu amigo e eu sou discípulo dele. A escola está linda (...). Vamos ver o que acontece porque a avenida é um espetáculo.
Cabe aqui relatar que um dos pesquisadores esteve bem próximo do carnavalesco Joãozinho Trinta e tentava entrevistá-lo, mas, ao ser informado de que ele havia sofrido de um AVC, o pesquisador resolveu então não entrevistá-lo, já que em meio ao tumulto, o carnavalesco que ainda convalescia poderia não compreender o sentido da pergunta e o tema desse trabalho. Aliás, vale ressaltar que o carnavalesco sequer foi entrevistado por uma das duas emissoras de televisão abertas que estavam na avenida fazendo apenas flashes do carnaval campista.
Logo em seguida, encontramos o homenageado Olavinho e, então, aconteceu o inesperado. Fomos surpreendidos por dois fatos: o primeiro foi o atraso da escola e o segundo, a irritação do homenageado, que nos recebeu com os nervos à flor da pele. Vendo um microfone em sua direção, ele então desabafou: “olha só, primeiramente tenho que dizer que eu estou frustrado. Meu prazer por esta homenagem é imensa. Estou frustrado porque nossa escola está atrasada, não sei o que vai acontecer. A minha parte, que é a parte do homenageado, foi feita”.
E continuou sua reclamação: “meu compromisso foi cumprido, só que o presidente e o carnavalesco não falaram a mesma língua. Desde o início eu senti isso e deu no que está dando, estamos atrasados com nosso carnaval, já perdemos cinco pontos, não sei se vamos começar na avenida porque tem 15 minutos para desfilar. Eu antes, em todas as entrevistas, dizia que me sentia maravilhado porque é uma coisa para mim de outro mundo. Seria mais uma coisa da minha história de vida, mas estou frustrado porque a escola não vai... Está bonita a escola. Foi preparada para ganhar o carnaval e não vamos ganhar porque nós pecamos nessa questão de carnavalesco e presidente não falarem a mesma língua”. Mesmo assim, a escola entrou na avenida e pode enfim mostrar todo o seu enredo.
Por outro lado, em uma das cabines, indagada sobre o que achava dessas escolas que mostram enredos em homenagem a pessoas que ocupam cargos políticos, a gerente de cultura do município, Maria Cristina Torres Lima, disse que “é uma coisa que pode e deve ser evitada, porque me parece que é uma coisa que chega próxima à busca de patrocínio, de alguma vantagem financeira. Eu acho que o município é um município rico na sua história, tem características na culinária muito específicas, no artesanato, em tudo aqui. O município tem muito argumento que poderia servir de samba-enredo ou de tema para um enredo de escola de samba. O que eu acho que está faltando é justamente despertar, nas pessoas responsáveis por esses sambas-enredo, essa visão”.
De acordo com o cronograma da coordenação do carnaval, após a apresentação do Boi Sapatão, o público pôde acompanhar o desfile da escola de samba Os Independentes, que também prestou homenagem a uma pessoa da comunidade. O homenageado era Jorge Ferreira Lobo, mais conhecido como Lobinho. De acordo com informações, ele é campista, viveu muitos anos fora do município e, ao retornar, acabou recebendo a homenagem da comunidade e da escola de samba.
Ao ser informado de que o carnaval em Campos vem sofrendo a influência dos políticos locais, que fazem um verdadeiro merchandising de suas imagens junto às comunidades e ao público em geral e também vêm (des) construindo a imagem de que o carnaval é uma festa popular, Jorge declarou que “homenagearam Nilson Maria, um grande nome, uma pessoa íntegra. Homenagearam Roberto Barbosa, vai entrar agora aí. Roberto é um cara bom, parceiro. Homenagearam também o Olavinho. Eu acho que foram grandes homenagens, porque nós temos que aprender a valorizar a prata da casa. Eu não concordo em trazer puxador de samba de outros municípios, trazer outras pessoas para desfilar, porque nós temos pessoas capacitadas para fazer um bom carnaval”.
As críticas de Jorge (e grifadas por nós) são relativas ao compositor e puxador de samba Jorginho do Império, que veio cantar o samba da escola Onça no Samba, que homenageava o presidente da Fundação Teatro Trianon, Nilson Maria. Quanto às outras pessoas a referência era em relação ao Boi Sapatão, que além de trazer Joãozinho Trinta e Maria Alcina, trouxe também alguns passistas e foliões de fora.
Ele ainda complementou as informações mostrando quem estava na avenida e quem não estava. “Olha só aqui na avenida! Não vem ninguém rico! Aqui vem o povo carente. Vem o povo que não tem condição para ir para as praias, porque o rico não fica na avenida, não! O rico vai para a praia e o povo pobre, carente, humilde, é que vem para ver o grande carnaval. E eu observei que os nossos políticos, não dão nenhuma moral ao nosso carnaval, porque eu não vi na avenida nem sequer um vereador aqui. Eu não vi”.
A escola seguinte, a Acadêmicos de Santa Cruz, foi dessas que entraram, passaram, foram embora e ninguém percebeu o que ela queria mostrar. Na verdade, o seu tema era em homenagem à ex-governadora Rosinha Garotinho, mas como ela já havia anunciado que não iria assistir ao desfile, por ser evangélica (fato contraditório, pois em 2004 foi homenageada pela Ás de Ouro, assistiu ao desfile no camarote e no final ela acabou se rendendo ao desfile da escola e se juntou aos últimos passistas para encerrar o desfile). A escola resolveu então fazer o seu desfile sem o devido brilhantismo. Passando pela avenida como se estivesse apenas cumprindo com o seu papel e se manter no grupo.
Depois da Acadêmicos de Santa Cruz, viria a Unidos de Ururaí. E foi aí que tudo aconteceu. Se até então o desfile transcorria bem, com as escolas entrando nos seus respectivos horários, o mesmo não aconteceu com a Ururaí. A escola trazia como enredo o livro “Minha Aldeia, Minha Trincheira”, do jornalista e secretário de comunicação da prefeitura Roberto Barbosa. A vontade de mostrar o desfile dessa escola era muito grande, mas infelizmente aconteceu o que ninguém poderia imaginar. O carnavalesco da escola, Rubinho Chebabe acabou fazendo um carro maior do que o permitido e, como conseqüência, não conseguiu chegar nem na concentração. O tempo escoava e, com isso, a escola perdia os seus pontos de concentração, já anunciados pelo coordenador do carnaval.
Roberto resolveu, então, chamar o coordenador do carnaval, para negociar uma saída para não prejudicar a escola, mas já era tarde. Kapí ficou irredutível e o público infelizmente acabou sofrendo com a espera.
Enquanto a próxima escola, a Ururau da Lapa, se preparava para entrar na avenida, o coordenador do carnaval relatava o que havia acontecido com a Unidos de Ururaí: “Rolou que os carros feitos pelo carnavalesco Chebabe eram maiores que a avenida. Então está com essa dificuldade de chegar. Mas obedecendo ao regulamento, foi desclassificada a Unidos de Ururaí e, agora, temos a Ururau da Lapa entrando no seu horário devido”.
A escola de samba Ururau da Lapa não iria mostrar em seu enredo, homenagens a políticos, mas sim reviver um antigo samba criado por Waldo Pessanha, pai do presidente Jaime Gabriel Nolasco Ribeiro. A poucos metros dali e, aproximadamente pouco depois das 2 horas e 20 minutos, um dos pesquisadores pôde assistir a uma cena lamentável. Um bando de aproximadamente 35 adolescentes, na faixa dos seus 14 a 17 anos, tentava se aproximar dos passistas da escola, para, logicamente, criar tumulto e prejudicar o desfile da mais tradicional escola de samba de Campos.
Vale frisar que, apesar do seu tamanho, o município de Campos também vive seus problemas domésticos em relação ao tráfico de drogas e duas favelas, localizadas em pontos diametralmente opostos, tentam de todas as formas controlar a venda no município. E até mesmo em eventos como o carnaval e os desfiles cívicos do dia 28 de Março (aniversário da cidade) e do 7 de Setembro são alvos preferidos dessas gangues, que procuram arranjar um pretexto para criar brigas, confusões e problemas com a Polícia Militar e causar transtornos para a população.
Naquele pequeno espaço da confluência das ruas Barão da Lagoa Dourada e Avenida XV de Novembro, os adolescentes demonstravam audácia diante de apenas 10 a 12 policiais. Mas, felizmente, nada de pior aconteceu e a PM conseguiu colocar o grupo para correr dali, deixando os espectadores diante do espetáculo da Ururau da Lapa. O desfile dessa escola, como sempre, foi tão empolgante, que “levantou as arquibancadas”, fez o público delirar e o resultado não poderia ser outro, a vitória.
Depois da Ururau da Lapa, foi a vez da União da Esperança entrar na avenida e mostrar ao público as belezas de São Fidélis. Como o tema era relativo a um município vizinho é claro que o prefeito da referida cidade, Davi Loureiro, compareceu à Avenida XV de Novembro para mostrar os encantos da cidade-poema.
Sobre essa homenagem, o prefeito disse que “o povo de São Fidélis está muito feliz, apesar da tristeza que está vivendo toda região, por causa das chuvas. A União da Esperança, com o carnaval e a cultura popular, que é uma tradição do nosso povo, com uma forma de homenagear a nossa cidade, contando a nossa história, a gente fica muito feliz e, isso, com certeza, está sendo motivo de orgulho para o povo fidelense, que ajudou a dar uma levantada na auto-estima da nossa cidade que, como Campos, andou sofrendo com o problema das enchentes (...)”.
Minutos antes de se integrar à escola de Ururaí, juntamente com seu amigo, Roberto Barbosa, o professor de história Marcelo Sampaio deu a sua opinião sobre a polêmica causada pelos políticos locais, que vivem procurando as escolas de samba com fins de se promoverem. Disse Marcelo: “Olha! Particularmente eu acho que uma homenagem a um político com mandato não é algo muito ético, nem muito interessante. Mas acho que ninguém tem o direito de interferir na escolha de um enredo. Uma agremiação carnavalesca ela deve ter liberdade para fazer o enredo que achar melhor. Agora, acho que enredos históricos, enredos com mais subsídios são melhores”.
Em seguida, cumprindo apenas com o regulamento, a Unidos de Ururaí entrou na avenida para cumprir com sua obrigação. Indagado sobre os problemas ocorridos com a escola, o secretário de comunicação Roberto Barbosa declarou: “Só fomos atropelados por um incidente lamentável, o carnavalesco abandonou o carnaval e não sabemos porquê. Há outro carnavalesco que assumiu nas últimas 24 horas e nós estamos desfilando por honra da comunidade. Demais estávamos com carnaval para brigar pelo título, mas nem por isso vamos perder o entusiasmo. Vamos desfilar como se fosse de verdade”.
Quem ainda estava na avenida para assistir ao último desfile do carnaval 2007, viu um belo espetáculo. O ponto alto do desfile da Unidos de Ururaí foi quando a porta-bandeira, após ter passado pelo palanque oficial, onde estavam os jurados, resolveu solicitar ajuda de uma acompanhante, retirando os seus sapatos. Livre dos mesmos ela não fez por menos, e deram um verdadeiro show de samba, rodopiando com sua bandeira e os pés descalços em uma avenida asfaltada e cujo piso poderia logicamente causar-lhe sérios problemas físicos. Mas não foi o que se viu. Com empolgação e ânimo renovado, ela rodopiava como se estivesse em um piso bem menos abrasivo, apesar do adiantado da hora. Passava das quatro da madrugada.
Sobre os fatos que aconteceram no carnaval desse ano, enquanto alguns foram críticos em afirmar que são contra esse tipo de enredo nas escolas de samba, outras pessoas se posicionaram de forma positiva, achando que a polêmica é irrelevante. É claro que, ao analisarmos as respostas de cada um, pudemos perceber um misto de ingenuidade de alguns e um jeito político para se defender e evitar futuros problemas, por parte de outros.
Para o radialista Wallace de Oliveira, o carnaval desse ano “melhorou com mais qualidade não só dos blocos, como das escolas de samba. A Mocidade Louca deu a volta por cima, independente do resultado se será campeã ou não do grupo de acesso. Eu acho que nós temos condições de melhorar e com o sambódromo que, segundo o prefeito, será uma realidade a partir de 2008, aquelas sociedades que não se organizarem a tendência delas será desaparecerem”.
O presidente da Fundação Teatro Trianon, Nilson Maria, que foi homenageado pela Onça no Samba declarou: “Eu, particularmente, sempre fui contra a utilização política do carnaval. No caso específico, eu nunca pleiteei homenagem de espécie alguma. Nunca pedi. Algumas escolas já tentaram me ter como enredo, eu nunca aceitei, cedi esse ano ao argumento irrefutável de Xuxa Caetano, mas tenho a tranqüilidade de receber essa homenagem e saber, e poder encher a boca e dizer que eu não estou usando isso como objetivo político de forma alguma. Eu não sou candidato a cargo eletivo, nunca fui, não pretendo ser e recebo isso como uma demonstração de carinho do público carnavalesco dessa cidade, a quem eu também considero muito”.
Apesar do trabalho de coordenador do carnaval e das muitas idas e vindas da concentração até o palanque oficial em sua pequena motoneta, o coordenador do carnaval ainda teve tempo de opinar sobre as escolas de samba, que ano após ano mostram enredos em homenagem a políticos. Sobre isso ele disse que “é pouca criatividade das agremiações e, também, de interesse financeiro, porque geralmente a homenagem a essas pessoas tem o apoio financeiro. Essas pessoas geralmente apóiam financeiramente. Eu acho lastimável, em detrimento de um projeto cultural de apresentar um carnaval com temas culturais, que é o que justifica o carnaval na avenida”.
Entre os muitos entrevistados, um dos coordenadores do carnaval, Carlos Vasquez, argentino de nascimento e apaixonado pelo carnaval brasileiro, além de tecer suas considerações sobre o marketing político ainda fez uma observação interessante, “o político procura a entidade e é por causa de política. Você pode ver que nesse ano não tem eleição de perto, não tem homenagem a político. Eu, como pessoa, sou contra. Como carnavalesco que eu sou e que gosto de um espetáculo bonito, acho que qualquer pessoa pode ajudar e isso é válido. Mas seria muito melhor a prefeitura dar uma verba melhor para a agremiação não precisar de ajuda de fora”.
Depois do carnaval, quando os jornais voltaram a circular, enquanto a expectativa na quarta-feira de cinzas era pelo resultado do vencedor do carnaval campista, o colunista do jornal Folha da Manhã, Saulo Pessanha, publicava, em sua coluna, algumas notas sobre o carnaval campista.
No dia 25 de fevereiro, na página 8, com o título “Dá um enredo?”, Saulo escrevia: “Nem todos os homenageados no carnaval em Campos rendem um bom enredo. Gente ligada às entidades não faz segredo: admite que, hoje, o que se busca é um tema capaz de ‘bancar’ o desfile. Mas esta não é uma prática local. No Rio, há escolas que buscam enredos que gerem dinheiro. A Imperatriz é uma delas”. Ainda na mesma página e em seguida, com o título: “Vale a homenagem”, Saulo noticiava, “para 2008, já se sabe que a Mocidade Louca, que volta ao Grupo Especial das Escolas de Samba, vai ter como enredo Nelcimar Pires. Está aí uma escolha para ser festejada. Nelcimar, que projeta o nome da cidade no carnaval do Rio – é pentacampeão no concurso de fantasias do Hotel Glória – merece ser homenageado no carnaval de sua terra”.
Em seguida, ele completava a nota anterior a esta cujo título é “Quer o título”. A nota estava escrita assim “como tema de enredo, Nelcimar quer, lógico, a Mocidade preparando um desfile para levantar o título. Daí que, acostumado com vitórias, o estilista vai se empenhar junto à comunidade do Morrinho – ali, no prolongamento da Lacerda Sobrinho – no trabalho pré-carnavalesco”.
Dois dias depois, 27 de fevereiro, dessa vez na página 4 do mesmo jornal, Saulo Pessanha escrevia mais notas sobre o carnaval, das quais iremos transcrever os três primeiros, pois as duas últimas são relativas a atos falhos da imprensa em relação ao carnaval de 2007. Na primeira nota com o título de “Só elogios”, ele escrevia “o filho pode ser feio. Mas os pais são só elogios. Quem não assistiu à apresentação das escolas, blocos e bois pintadinhos na Av. 15 de Novembro, mas ouviu as entrevistas de dirigentes das instituições e do pessoal que coordenou o carnaval, está convencido de que perdeu um grande espetáculo. O que se dourou a pílula...”.
A nota seguinte tinha como título “A propósito...” e o teor era este: “Sobre o carnaval de Campos, Joca Muylaert, que é o diretor da Biblioteca Nilo Peçanha, num bate-papo com o maestro Ethmar Filho, comentou que a Madureira do Turfe desfilou sem bateria. “No Rio, a Viradouro inovou, exibindo duas baterias. Uma delas não teria sido a da escola de Campos?”, devolveu Ethmar”.
Em seguida, com o título “Aluguel”, Saulo complementava a nota anterior com esta informação, “mas não foi só a Madureira do Turfe que desfilou sem bateria. O ato falho envolveu um boi pintadinho. O motivo, segundo o pessoal mais chegado ao carnaval, é que nos últimos anos passou-se a alugar baterias. Nos casos específicos, diante da falta do pagamento antecipado, teria havido a recusa de entrada na avenida”.
Conhecido entre seus colegas de imprensa, Saulo ao que parece, vai na contramão daquilo que muitos combatem, o enredo que trata de homenagens a pessoas públicas – Nelcimar é apenas um costureiro, que venceu 5 vezes o concurso de fantasias -, mas e daí? Como ficaria um enredo em homenagem a ele? Que outras informações seriam necessárias para preencher um enredo e um samba? Ficaria apenas nisso?
Pois bem, em relação às notas do dia 27 – Saulo que não foi visto na avenida -, relatou algo que vem acontecendo inclusive em desfiles cívicos – o aluguel de baterias. Aliás, o próprio presidente da AESC, Ariel Chacar, comentou que no carnaval a expectativa de pessoas que estão desempregadas é muito grande, porque é nos dias que antecedem à festa, que eles têm oportunidade de arregimentar forças e conseguir algum dinheiro extra, pois a maioria dos que trabalham nos barracões das escolas é de desempregados, que aproveitam esse momento para saírem do sufoco e das dificuldades. Nos desfiles carnavalescos cariocas, alguns foliões desfilam em mais de uma escola, seja por amor à escola, por carinho, ou pela simples vontade de sambar e desfilar na Marquês de Sapucaí. Além do aluguel de baterias, observa-se ainda, uma outra vertente que até então passava despercebida – o aluguel de passistas. Tudo porque, em meio a um dos desfiles, uma verdadeira multidão de passistas e foliões, que haviam desfilado na escola anterior, voltava pela mesma Avenida XV de Novembro, em direção à concentração, para então desfilar pela escola seguinte.

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