domingo, 27 de janeiro de 2008

05 - VISÃO DOS HISTORIADORES

Ao fazer um relato da história dos carnavais campistas, Jorge da Paz Almeida, além de mostrar o que havia acontecido no carnaval de 1925, faz um contra-ponto com o que ele estava vendo em 1975 e conta que os grandes clubes começaram a dar sinal de cansaço. “A exemplo do que hoje acontece com as sociedades carnavalescas (mesmo as grandes), como no caso dos Tenentes de Plutão – Clube Macarroni e Indianos Goytacazes (...)”.
O pesquisador Jorge conta, ainda, que os primeiros blocos carnavalescos, denominados de Blocos de Escudos, não objetivavam disputar títulos, mas apenas se reunir para um desfile alegre brindando os que se concentravam nas ruas para assistirem ao carnaval. E explica: “(...) porque o Carnaval não era esquematizado, os responsáveis faziam a festa para o público, sem caráter competitivo, tendo como objetivo máximo a alegria carnavalesca”.
Entretanto, CARVALHO (op. cit., p. 76), comentou que, já em 1967, o carnaval estava em decadência porque “os folguedos de rua estavam muito desanimados, ridículos mesmos”. E complementou dizendo que, “nada daqueles tipos curiosos a desfilar pela manhã, tampouco as luxuosas fantasias exigidas à tarde, ocultando de maneira hermética, as figuras autênticas que se vestiam de Pierrô, Colombina ou Arlequim”. Portanto, fica evidenciado o desânimo por parte dos foliões de tempos em tempos, deixando o carnaval de lado ou então voltando com o objetivo de levar às ruas, outro tipo de sociedade.
Mas quando surgiu a disputa do carnaval?
A resposta pode ser encontrada em outro ponto da obra de Jorge da Paz Almeida e no mesmo capítulo referente aos blocos carnavalescos.De acordo com o seu relato, no final da década de vinte e início da década de 30, surgiram os blocos carnavalescos mais positivos e com sentido de disputa, sem que, necessariamente, alguém definisse a organização de comissão julgadora, encarregada de indicar os melhores. Há controvérsias, uma vez que as décadas de 20 e 30 do século passado eram caracterizadas pela presença, nos bairros, das batucadas que, nos anos 60, ganharam o rótulo de escolas de samba.
Para o autor, os pontos altos desse período foram às marchas criadas pelos blocos, tudo porque cada um deles criava uma marcha debochando dos demais blocos. Como, por exemplo, esta do lendário Pega Veado, na década de 30:

Chega, Momo, chega...
Os cordões vêm com amor
São os Caçadores e na Zona do Terror
Dos Filhos do Sol, brilha a Estrela...
E na sua luz surgiu a Lira Brasileira
Dizem que ele sabe
Mas não diz nada a ninguém
Pobre das Morenas que Paixão não têm
Com medo do Pega o Prazer precipitado
O Felisminda já é noiva do Veado.

Assim, os componentes do Bloco Felisminda Minha Nega quiseram brigar com o Bloco Pega Veado. Mas somente com a saída de Antero, que fundou o Bloco de Escudos e o Prazer das Morenas, o Felisminda resolveu responder à provocação da seguinte forma:

Seu prazer está no cachimbo
Pois as Morenas eu nunca vi
Me solte (sic) um tango
É o que posso fazer por ti
Tu nunca foste (sic) Prazer das Morenas
Pois as pequenas não são mulheres tolas
Mas sempre foste (sic)
Prazer das suas negas
Ou alegria intensa das crioulas.

Posteriormente a esse início e na década de 30, Jorge da Paz Almeida, relata o período em que no carnaval campista, também, imperavam os ranchos. Desse tempo, ele enfatiza que enquanto os homens desfilavam nos Cordões, “as moças que quisessem desfilar em alguma sociedade só poderia fazê-lo num rancho”.
Na década seguinte, 40, é que o carnaval das classes menos aquinhoadas começou a ganhar maior impetuosidade, pois o então prefeito Manoel Ferreira Paes e o Presidente do Unidos da Coroa, Rodoval Bastos Tavares, que era funcionário da Prefeitura, deram atenção especial aos carnavalescos. Depois, outros prefeitos que se seguiram, como: José Alves de Azevedo, Barcelos Martins, Carlos Peçanha, Rockefeller Felisberto de Lima, José Carlos Vieira Barbosa e Raul Linhares, também fizeram o mesmo, inclusive passando a subsidiar a estrutura e as sociedades carnavalescas.
Atualmente os subsídios estão mais substanciosos e isso passou a ocorrer nos governos de Anthony Garotinho, Sérgio Mendes, novamente Garotinho, Arnaldo Viana e Alexandre Mocaiber. E já se anunciam outras formas de “homenagem”, claramente com o intuito de assegurar à sociedade carnavalesca uma forma de poder desfilar, independentemente da verba que recebe como ajuda da municipalidade.
CARVALHO (op. cit., p. 301) cita que foi no ano de 1962 que o Governador do Estado, o campista Togo de Barros e o prefeito Carlos Peçanha, e tendo como presidente da Federação das Sociedades Carnavalescas de Campos, José Sartro Costa, “solicitaram e o deputado Alair Ferreira concebeu uma verba destinada às sociedades carnavalescas de Campos, possibilitando o seu tradicional desempenho perante o público”.
Somente em 1968, é que o carnaval campista teve o seu primeiro desfile “mais ou menos organizado”, como conta Jorge da Paz Almeida,

De uma maneira geral, Vilmar Rangel, primeiro Diretor de Turismo, além de oficializar os desfiles de blocos de samba, influenciou o então Prefeito José Carlos Vieira Barbosa e conseguiu a ornamentação uniformizada da cidade durante o reinado de Momo. Então a abertura oficial do carnaval foi feita com um carro aberto, desfilando o Cidadão do Samba, o Rei Momo e a Rainha do carnaval, para isto o Departamento de Turismo contou sempre com a colaboração da Associação dos Cronistas Carnavalescos de Campos, na ocasião presidida pelo (radialista) Aury Fonseca.

No ano seguinte, o jornalista Nicolau Louzada, diretor da Promo-Campos (que dá nome hoje ao Troféu “Ouro da Terra”, promovido pela Fundação Trianon, na administração de Nilson Maria Pessanha), à frente do mesmo Departamento, além de conseguir a ornamentação, contribuiu disponibilizando arquibancadas que deram mais segurança e liberdade de movimentos aos componentes das sociedades carnavalescas e, também, ao público em geral.
Outro fato, citado por Jorge da Paz Almeida, e que tem importância para o carnaval campista é o fato de a Associação dos Cronistas Carnavalescos de Campos, sob a presidência do, também, colunista Nicolau Louzada, ter passado por uma reestruturação em 1974, dando maior apoio ao carnaval.
Quando estiveram à frente da Associação das Escolas de Samba de Campos, Jorge da Paz Almeida e Herbson de Freitas, então ocupando o cargo de Diretor de Turismo da Prefeitura, resolveram, em comum acordo, que as entidades carnavalescas deveriam possuir outras atividades fora do carnaval durante todo o ano, para não dependerem das verbas oficiais.
Mas foi a partir de 1977, no governo do prefeito Raul David Linhares, que os carnavalescos encontraram no Diretor de Turismo, Dudu Linhares, um campo aberto para o diálogo e este, então, cobrou das escolas a criação de um órgão específico, que respondesse por elas, surgindo então a Associação das Escolas de Samba de Campos – AESC e a União dos Blocos de Samba de Campos. – UBSC.
Naquela época, o jornalista Herbson de Freitas justificava o subsídio para o carnaval de Campos, assinalando que:

(...) carnaval é investimento sem retorno, é para o povo, cabe ao governo promovê-lo, dando às sociedades condições de apresentar algo que possa pelo menos agradá-lo. Nunca concordamos com o revide, principalmente das escolas de samba que insistiam no não cumprimento de horários e regulamentos.

As escolas de samba, já naquela época, não se respeitavam e atrasavam os seus desfiles, com o único propósito de tirar o brilho da última escola a desfilar. Desse modo, enquanto algumas, vencidas pela própria desorganização desapareciam, surgiam três ou quatro blocos de samba e o desfile destes últimos crescia a cada ano.
Em 1984 e 1985, quando a cidade sofreu com as constantes chuvas, o carnaval campista foi realizado sob o sistema de mutirão no primeiro ano, com a prefeitura oferecendo às entidades toda a infra-estrutura de instalação de arquibancadas para três mil pessoas e os camarotes para as entidades que dirigiam o carnaval.
Só que, no ano seguinte – ano do sesquicentenário da cidade -, o município sofria com novas enchentes. Diante disso, coube a AESC solicitar de empresários, de comerciantes e da Petrobrás ajuda financeira para viabilizar o carnaval. A entidade ainda determinou que todas as sociedades apresentassem o tema baseado nos 150 anos do município.
Parodiando Hervé Salgado Rodrigues, Jorge da Paz Almeida, disse que “o nosso carnaval veio vindo, com atrasos incabíveis, principalmente nos desfiles das escolas”. Mas “o mundo das escolas de samba começou a reagir com o aparecimento de várias outras escolas”, frutos da transformação dos antigos blocos “Onça no Samba” e “Ururau da Lapa”.
Numa publicação histórica, no Jornal “A Notícia”, em 17 de fevereiro de 1985, Hervé fala da participação dos clubes de futebol no carnaval, salientando:

(...) o bloco Mama na Burra, do Goytacaz, com críticas ferinas ao Americano, da autoria de Gumercindo Freitas, Ernesto Lima Ribeiro, Lobinho, Balbi e outros; e os “Mosqueteiros da Baixada”, do Americano, Oswaldo Aguiar à frente, fazendo gozação com o Goytacaz. E o bloco Pé no Fundo, do Clube de Regatas Rio Branco (...).

No mesmo periódico, o historiador comenta o tempo, exatamente nos anos 60, quando o carnaval da classe média passou das ruas, com o final do corso, para os salões dos clubes sociais. Saldanha da Gama, Automóvel Clube Fluminense, Clube de Regatas Campista, Rio Branco de Regatas, Bandeirantes da Lapa, além de outros salões, inclusive nos distritos.
O fenômeno do carnaval nas praias, com ênfase para o Atafona, Grussai e Farol de São Tomé, é mais recente, coincidente com o crescimento das atividades carnavalescas em São João da Barra. Ele destaca o Grussai Praia Clube, na presidência do radialista Andral Nunes Tavares; o Atafona Praia Clube e os desfiles carnavalescos no Farol, com o brilho de seu tradicional bloco “Ladrões de Bagdá”, dizem que fundado por sírio-libaneses que veraneavam na única praia genuinamente campista.
Em suas pesquisas, Hervé, referindo-se à segunda metade dos anos 80, enfatiza: E os nomes de hoje? E ele mesmo cita:

(...) Mercedes de Oliveira, Adair Ferreira, Roberto Moreira, Ariel Chacar, Rubens Pereira, Robertinho Boca de Encrenca, Ailton Barra Limpa, Silvio Feydit, o vereador Edson Coelho dos Santos, Paulinho 29 e o sempre presente Jorge da Paz Almeida, o Jorge Chinês, baluarte do carnaval campista.

Em nenhum momento, as narrativas de Hervé indicam a adoção de enredos a personalidades políticas, demonstrando que esta prática é muito nova e, infelizmente, danosa para a próxima história do país. O máximo que se observava era uma enorme faixa, que se estendia à frente do Abre-Alas, dizendo que a sociedade tal homenageava fulano e pedia passagem ao povo da cidade. Aliás, uma forma de agradecimento às autoridades que, mesmo diante de orçamentos prejudicados pela baixa arrecadação, ainda encontravam meios para financiar parte da folia de Momo e, por extensão, as sociedades desfilantes.

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