domingo, 27 de janeiro de 2008

08 - OPINIÃO DOS COMPOSITORES

O brasileiro nutre pelo carnaval uma paixão, a exemplo do que acontece com o futebol. Por isso, quando o assunto é carnaval, as rivalidades falam mais alto e, cada qual, acredita que sua escola é melhor do que a outra. Desse modo, ao levantarmos a questão do excesso de enredos, homenageando políticos no carnaval, foi como acender o estopim de uma bomba.
Observamos cada qual defendendo a sua agremiação e a sua posição política a respeito do assunto, compondo a resposta de tal forma temerosos de serem contraditórios com relação às amizades que nutrem por esse ou aquele político.
Tanto que algumas respostas nos surpreenderam, quando, por exemplo, o radialista Ricardo Silva disse que “eu acho que as pessoas que têm ligação com as escolas de samba, não se importam se empresário ou político. O importante é que essas pessoas tenham um trabalho dentro da sua comunidade. Então, se a escola resolveu homenagear pessoas publicas é porque essas pessoas têm um trabalho social e eu não vejo nada contra, desde que a pessoa que está sendo homenageada tenha algo para se contar”.
No entanto, o presidente da Associação Campista dos Compositores, Francisco Pereira Caldas, ao receber uma homenagem no bar do Jaiminho, desabafou da seguinte forma: “Estão esbanjando, abusando dos poderes. Deixo claro que não sou contra a homenagem a político. Combato o excesso de políticos que estão sendo homenageados quando não têm história nenhuma no carnaval”.
Mas por outro lado, o presidente da Associação das Escolas de Samba, Ariel Chacar, que também já foi homenageado por uma escola de samba campista, declarou que, “eu não sou muito a favor, (...) as entidades precisam do seu recurso para fazer o carnaval, foi onde eles encontraram um encosto (...) um lugar que pudessem ter recursos fazer o carnaval. (...) temos escolas que tiravam os últimos lugares. Quando elas encostaram-se no político para receber uma parcela de ajuda, passaram a obter sucesso, crescendo dentro do carnaval”.
Wallace de Oliveira (Lorde Fofoca), conhecido radialista, ao ser indagado pelos pesquisadores foi enfático: “No carnaval quando os políticos são homenageados sou contra. Totalmente contra. Mas respeito a autonomia e a independência de cada escola, de bloco, de boi. Se nada existe que proíba, não há nenhuma irregularidade”.
O compositor Dalvino Costa mistura a religião com o carnaval, ao responder sobre o que é mais fácil fazer, se um samba político ou histórico. Ele respondeu que “o mais difícil é o marketing político, (...) porque acho que o compositor vive envolvido em poesia, poesia tão pura, que, pela essência, vem de Deus”. Mas, para Geraldo Gomes (Geraldo Gamboa), “o marketing político é muito mais fácil, pois a nossa responsabilidade para com a história é muito maior (...) porque no histórico é preciso pesquisar de maneira séria”.
Acreditávamos que eles fossem se opor a esses enredos que não passam de marketing e manipulação política “numa cidade que vive e respira política” como disse o radialista Maurício Menezes, quando aqui esteve palestrando no auditório do Senac, por conta do XI Seminário de Comunicação, no dia 17 de março deste ano. Em meio à polêmica levantada na avenida, no carnaval deste ano, sobre o tema em questão, percebemos que, da parte dos homenageados, as opiniões eram unânimes e todos afirmavam serem contrários aos enredos abordando o marketing político.
Nilson Maria Pessanha, radialista e homenageado pela Academia de Ritmos Onça no Samba, com o enredo “A Onça se vestiu de verde-rosa para homenagear Nilson Maria”, foi enfático ao opinar que, “eu particularmente sempre fui contra a utilização política do carnaval (...). No ano de eleição tem uma porção de enredo falando sobre político que é candidato a cargo eletivo. Sou contra o uso do marketing político dentro do carnaval. Sou contra, não aceito. Sempre fui contra, mas não é o meu caso, graças a Deus”.
Indagado em dois momentos pelos pesquisadores, Jaime Gabriel Nolasco Ribeiro, o Jaiminho, presidente do Ururau da Lapa mostrou, em 2006, como sua escola resolveu homenagear o ex-prefeito e ex-governador Anthony Garotinho: “Estamos falando do início de Garotinho, estamos focado na pessoa, estamos falando quando ele começou. Começou no rádio, narrando corrida de cavalo, falando sobre a casa da Lapa e a pracinha da Lapa, estamos falando sobre alguns trabalhos que ele fez como governador (...)”.
Em um segundo momento, em seu bar, quando realizava uma festa em homenagem ao presidente da Associação dos Compositores de Campos, explicou-me que “em nenhum momento fez homenagens a políticos em sua escola. Eu nunca homenageei político. Eu acho que as pessoas têm que homenagear a quem eles quiserem fazer homenagem, (...) ano passado eu fiz uma grande homenagem ao meu amigo Garotinho. As pessoas pensam que eu homenageei o político, mas eu fiz homenagem ao homem, à pessoa, à família, não ao político. Mas eu acho que quem homenageia ao político sabe o que está fazendo, sabe onde o sapato aperta. Eu não tenho nada contra quem homenageia a quem hoje é um político”.
Curiosamente, depois que o radialista Anthony Garotinho - que entre outras coisas também compunha sambas enredo -, alcançou o cargo eletivo de prefeito, é que os carnavalescos passaram a tematizar políticos como enredo de suas escolas. O ex-governador é o que podemos chamar de um campeão de temas em sua homenagem, porque só no ano passado recebeu homenagem de seis escolas de samba. No entanto, ao ser indagado sobre a sua posição quanto a esse fato, que vem ocorrendo no carnaval campista, ele foi enfático ao dizer que: “Olha, embora eu tenha sido homenageado por diversas vezes e por escolas diferentes, tanto aqui em Campos, como no Rio de Janeiro, sou radicalmente contra. Acho que devemos abordar nos desfiles das escolas temas históricos, temas que aproveitem para esclarecer, educar a população sobre fatos importantes, que aconteceram ou no nosso país ou nossa cidade (...)”.
Garotinho enfatizou ainda, que “hoje em dia a situação chegou num tal nível, em que pessoas sem a menor representatividade acabam sendo homenageadas porque ocupam cargo na prefeitura ou qualquer coisa parecida. Deveria haver uma certa intervenção do poder público, não no sentido de censurar, mas de orientar melhor para que elas coloquem temas que acrescentem aos participantes da escola e à comunidade envolvida com a escola (...)”.
Já o secretário de comunicação social, o jornalista Roberto Barbosa, explicou que ele não foi homenageado pela Unidos de Ururaí, mas apenas citado no enredo porque a escola mostrou como enredo o seu livro “Minha Aldeia, Minha Trincheira”. Além disso, ele disse ser contra os enredos personalistas. “Aquele enredo que homenageia pessoa em exercício de mandato, de função pública. Agora, se alguém homenagear político que já morreu eu não vejo nenhum problema. Por outro lado acho complicada a homenagem a um político no exercício do mandato quando ele está sujeito a inúmeras derrapadas que podem comprometer a sua história e sua biografia”.
Houve também quem expusesse a diferença entre homenagens e enredos de escolas, como Jorge da Paz Almeida. Por sua vez, o presidente da Associação de Imprensa Campista, jornalista Herbson Freitas, posicionou-se contra: “Acho que o carnaval é para abordar assuntos carnavalescos, fatos históricos. Sempre foi assim. Ele explicou que “antigamente, o carnaval era na base do livro de ouro. Os dirigentes das sociedades saíam pegando ajuda. Hoje a prefeitura dá uma verba e, às vezes, não atinge o necessário. Aí os carnavalescos são obrigados a prestar uma ou outra homenagem a um ou outro político, com o intuito de angariar fundos para que seu carnaval satisfaça na avenida”.
Em meio a tantas pessoas que foram entrevistadas na avenida sobre a questão do marketing político no carnaval, apenas a princesa do carnaval 2007, Renata Cruz, percebeu esse fato e declarou, “acho que o marketing político do carnaval só vem a favorecer ao político e não a nós carnavalescos”.

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